Educação Profissional para a Educação do Campo: desafios e perspectivas


 

Comentários

  1. Gean Carlo Soares Capinan

    Profa. Maria Fernanda, quando a Sra. fala Educação do Campo e Educação Rural como antagônicas , neste caso elas não seriam complementares, sendo observada com outra ótica?

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    1. Olá, Prof. Gean Carlo Soares, agradeço a questão posta que possibilita ampliar as nossas compreensões e entendimentos sobre o que diferencia a concepção de Educação do Campo e educação rural. Compreendo a Educação do Campo e a Educação Rural como paradigmas antagônicos e não complementares. Para mim, não é uma simples mudança de nomenclatura, a Educação do Campo demarca uma mudança de concepção de educação que traz em seu bojo uma mudança de olhar sobre o campo, seus sujeitos e as lutas que empreendem um outro projeto de sociedade e de olhar sobre o campo e a educação dos que vivem nele.
      Assim, a diferença que marca os termos rural e campo demarca também a mudança na concepção de educação. A educação rural se caracteriza por uma educação com valores urbanos, favorece a migração, um projeto de sociedade criado, sem a participação da população, para o fortalecimento do agronegócio que desconsidera a relação com o meio ambiente, a terra; descaracteriza o diálogo necessário e o acolhimento dos saberes da população tornando-os menos e os vendo como atrasados e não desenvolvidos.
      A Educação do Campo, como paradigma antagônico a essa concepção, apreende uma concepção de sociedade pautada no desenvolvimento sustentável do campo, na valorização do sentimento de pertença da população do campo ao campo, como espaço de história, memória e saberes, lugar da agricultura e de outras formas de produção, do trabalho, da vida e da sobrevivência. Enfoca reflexões sobre o contexto social, as relações de poder que se instituem a partir das questões historicamente pautadas: a terra e a produção. Além dessas questões, a Educação do Campo vem como luta e proposição dos movimentos sociais do campo em sua luta pela existência e vida; enquanto a educação rural resulta de projetos elaborados para a população do campo, tirando desses o protagonismo apresentando a relação campo-cidade como campos de disputa e de confronto e não de dialogo.

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    2. Gean Carlo Soares Capinan

      Excelente sua resposta, quando da imposição dessa educação rural acredito que concebida durante e a tão famigerada “Revolução Verde” que tinha ali ancorado um sistema tecnicista bancada por inúmeras empresas, visando apenas a produção sem se pensar nesse homem que foi a todo o momento explorado nos seus mais variados aspectos, percebemos que no contexto atual esse homem passa e deve ser protagonista de todo o processo, tendo como foco na questão educacional a EDUCAÇÃO DO CAMPO, sendo ele ambientado a explorar de forma racional o meio em que vive, neste sentido, como vocês enxergam essa “Nova Revolução” no sentido de apoio para o seu fortalecimento, a quem cabe e o que fazer para ampliar tal prática?

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    3. De fato, Prof. Gean Carlo, a Revolução Verde, adotada nos anos de 1970, teve um discurso de modernização do campo, mas desrespeitou e destruiu o campo com praticas agrícolas destruidoras do meio ambiente, da saúde dos trabalhadores rurais e dos seres humanos em consequência do uso intenso de agrotóxicos, insumos químicos, sem a preocupação com a preservação ambiental e o direito a soberania alimentar, como focam os movimentos sociais do campo, principalmente, o MST.
      Pelo que entendi na questão que finaliza a sua intervenção, você aborda a Educação do Campo como uma “Nova revolução”. Para nós, ela se compõe como um movimento que acolhe uma concepção não neutra de educação, porque a educação não é neutra, como nos diz Paulo Freire; mas ato político intencional, ideológico e situado para a formação de uma sociedade, para a formação de um sujeito, para a formação de um processo humanizador em que todos e todas são iguais, caracterizando-se como uma educação critica e produtora de conhecimentos contra a subserviência e a subordinação.
      Partindo desse ponto, venho a sua questão: como vocês a enxergam no sentido de apoio para o seu fortalecimento, a quem cabe e o que fazer para ampliar tal prática? Não trago uma resposta, mas algumas reflexões para nos aprofundar. Consideramos que a pratica não é individual, mas ocorre na organização, na produção coletiva do conhecimento, na relação teoria e prática, no diálogo como aqui estamos procurando fazer, mesmo que a distancia. No respeito, no ouvir, na consideração dos saberes e dos conhecimentos dos povos do campo e das periferias, na caminhada coletiva que traz em seu bojo a memória histórica da luta, a biografia dos que já se foram, no nosso processo de formação, na compreensão de como podemos fazer a leitura de mundo, atinando para uma reflexão critica e aberta. Mas, principalmente, na adesão a outra concepção e projeto de sociedade e de formação que entende a educação como uma prática problematizadora, libertadora e humanizadora.

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    4. Trabalhei na Extensão Rural, e aprendi com as comunidades nas quais desenvolvia as atividades diárias que a Educação do Campo é sem dúvidas a melhor estratégia utilizada para essas comunidades. Obrigado Professora, pelo seus excelentes esclarecimentos. Como revigora a nossa luta diária. Abraço

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  2. Maria Erivalda dos Santos Torres
    Excelente explanação, especialmente quando é abordada a luta em defesa do trabalhador/a do campo, como a garantia dos direitos e uma política de estado para a educação profissional do campo.

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    1. Obrigada, Profa. Erivalda. Fico feliz em poder nesse espaço dialogar com colegas que vem como você, que integra os fórum de EJA de PE, espaço que resulta da luta daqueles e daquelas que lutam pelo direito à educação, acolhendo a luta e as reivindicações dos movimentos populares.

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  3. Profa Maria Fernanda,

    obrigada pela importante e instigante apresentação. Estou iniciando uma nova experiência profissional com educação do campo e com pesquisa com comunidades quilombolas. Nesse sentido, sua fala e referências vão me ajudar nesse processo. Também, gostei muito das suas menções ao papel e atuações possíveis do Estado, dos movimentos e da própria escola.

    Abraços e, mais uma vez, obrigada pela fala,
    Melina Mörschbächer



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    1. Obrigada também às professoras Elisa e Maria Aparecida pelas reflexões, especialmente quando trazem conceitos educacionais e a importância das vivências, dos diferentes saberes e da educação para a emancipação.



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    2. Oi, Melina! Obrigada. Gostei muito de saber que pude contribuir com seu trabalho e que você está iniciando sua experiência com Educação do Campo e com as comunidades quilombolas. Estou a disposição para ajudá-la. De onde você é e com quais comunidades quilombolas você está trabalhando? Abraços e sucesso em sua nova jornada.

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    3. Obrigada pela resposta e pelo incentivo. Eu e minhas colegas, Maria Aparecida e Eline, estamos desenvolvendo no IFBaiano de Bom Jesus da Lapa um projeto de iniciação científica com jovens quilombolas na Comunidade Quilombola Araçá-Cariacá. Nesse evento publicamos um primeiro relato sobre essa experiência. A troca de saberes aqui tem sido fundamental para o prosseguimento e aperfeiçoamento dos trabalhos :)

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  4. Excelente, palestra!!!
    A Educação do Campo deve ser vista com um olhar diferenciado, para favorecer a essa classe. Como fazer para fortalecer os laços da política da Educação de Campo?

    Maria Erenita de Amorim Coelho

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    1. A política da educação do campo pode ser fortalecida por meio das políticas educacionais, como formação de professores inicial e continuada; distribuição de material didático, transporte escolar de qualidade, ensino técnico nas escolas no do campo, ou seja, a efetivação do PRONATEC/CAMPO. Para acesso dessas políticas são necessárias a mobilização dos movimentos sociais para tencionar o estado.

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    2. Oi, Erenita! Obrigada pela sua participação. Ao meu ver é participando da luta dos movimentos sociais do campo. Nesse sentido, podemos conhecer, estudar e ampliar os espaços de diálogos por meio dos processos de formação continuada e debates acerca das politicas educacionais para o campo e como estão sendo implementadas em cada município, estado e instituição de ensino. Há o Fórum Nacional de Educação do Campo, o Fonec, que agrega instituições, pessoas, movimentos sociais e representa hoje um espaço de discussão, luta e resistência em prol das politicas para a Educação do Campo. Assim, o Fonec, os fóruns e comitês estaduais são espaços que fortalecem os laços para uma politica de Educação do Campo.

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  5. Parabéns professoras pela conferencia. Muito pertinente as reflexões sobre o tema. sou professora do Ensino Médio e gostaria de saber como enfrentar novos desafios na Educação Profissional no ambiente da escola no campo?
    Liz Leal Mota Capistrano

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    1. Olá, Liz, obrigada pela sua participação e contribuição. Estamos cercadas por desafios, mas também por caminhos que nos possibilitam avançar. Um desses caminhos é esse que aqui estamos fazendo e participando, o da formação continuada. Nesse processo podemos ler, ouvir e estarmos atentas as práticas educativas escolares e a dos movimentos sociais, bem como as pesquisas que nos favorecem novos olhares e reflexões sobre as nossas práticas, reestruturando-as para um outro fazer que possa materializar uma educação contextualizada e libertadora, como aponta Freire.

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  6. Professora, parabéns por sua fala, muito pertinente sobre a educação do campo, pois é importante trazer essas discussões/ações a serem abordadas tanto no espaço acadêmico quanto ao escolar.

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    1. Maria Fernanda Santos Alencar29 de setembro de 2020 às 12:32

      Concordo com você, Kleide. Como afirmado acima na resposta ao comentário e pergunta da Liz, temos muitos desafios a enfrentar, mas o espaço acadêmico, a escola e as ações dos movimentos sociais do campo vêm apontando caminhos para reflexões de nossas práticas como docentes, pesquisadores e gestores. Esse refletir possibilita novos fazeres e olhares sobre o campo, seus povos e o nosso papel na adesão a outra concepção e projeto de sociedade e de formação que entende a educação como uma prática problematizadora, libertadora e humanizadora.

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  7. Prezada Professora, senti-me muito contemplada com a sua fala, pela coerência e lógica com que apresentou argumentos e defesas em prol da educação do campo. Falou do que vivenciou e portanto foi coerente quando disse, por exemplo, que não há possibilidade de se propor um projeto para a educação do campo, sem que se conheça os sujeitos do campo, sem saber quais são as suas necessidades, seus desejos, sem que esses sujeitos participem dessa construção. Outra questão apontada foi a de que a escola para os sujeitos do campo deve estar fincada no campo. Gostaria de ressaltar que concordo plenamente com essa proposta, embora a Pedagogia da Alternância se apresente como uma proposta pedagógica que atenda as especificidades desses sujeitos. Mas vamos acreditar e lutar para a realização desse sonho possível e necessário. Parabéns!

    Nelian Costa Nascimento

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  8. Parabenizo pela excelente e enriquecedora aula. Sabemos dos diversos desafios para a consolidação de uma educação do/no campo, nesse sentido, para além de implementação de políticas públicas, como construir no cotidiano da sala de aula uma educação que valorize e contribua com os saberes dos sujeitos do campo?
    Maíra Vitória Moreira dos Santos

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